![]() Há sempre um fogo que lhes queima a face num fim de tarde de Inverno, uma poesia que lhes corre nas veias, um sobressalto quieto, uma saudável obsessão. Não lhes pedi que lhe dessem um nome por me parecer injusto que alguém, com uma repulsa visceral a categorizações, o faça. Porém, se o tivesse feito, creio que tenderiam a apelidá-la de fotografia. Permitam-me a auto-correcção: Fotografia (e desenganem-se os que julgam estar na presença de um erro gráfico). De qualquer das formas, afastemo-nos do desconforto dos rótulos, porque o lugar deles, a existir, é fora desta porta. ![]() ![]() PAISAGEM-MEMÓRIA, de Francisca Soares, é um arquivo de olhares, de percepções e de sonhos. É uma luta acre contra uma mente terrivelmente pequena e desmemoriada, porque humana. É um relampejar taciturno num céu limpo de Agosto, uma vaga salgada que rasga o horizonte, um chão terroso que rejeita os pés. É uma paisagem desconstruída. É um lugar a salvo. É o devaneio de uma sombra sem corpo e de um corpo sem sombra. É o travo metálico de uma agulha que perfura a pele. É o flutuar singelo das pétalas. Quando se cruza com o mundo, é um lugar real em ininterrupta metamorfose. É um labirinto dinâmico, doentiamente revisitado numa ânsia de reconstrução, de redescoberta e de colisão com novos caminhos. SEM TÍTULO, de Juliana Campos, é a abstracção do padrão, da transparência e da textura. É o suor frio na palma das mãos. É o fragor quente do balançar rítmico das pernas contra o chão. É a espera. A espera. O ponteiro dos segundos na corda bamba. E o turbilhão do ápice. Do que acontece e já foi. É o contrariar da tendência dos corpos. É o desequilíbrio de um descontrolo controlado. É um jogo espiralado contra os limites. É a impressão indelével. A mancha disforme. O rasto fugidio. Um rasgo luminoso de efemeridade. ![]() ![]() "2BTITLED, de Sebastião Costa é um baloiçar desassossegado na ponta dos pés. É um bailado incessante irrevogavelmente dançado com a câmara junto ao peito, numa procura desenfreada pelo entendimento do mundo. É uma viagem arrebatadora entre a cidade frenética e o fulgor da lucidez oferecido pelo campo. É um rosto enigmático cerrado sobre si próprio a digladiar-se com as questões de género. É o corpo em contraste com a paisagem urbana, a relação entre o homem e o lixo. É uma demanda perseverante acerca dos limites do belo e das barreiras erguidas entre o artístico e o comercial. De quando em vez, é uma flor, uns fios de cabelo afastados pelo vento, uma pequena narrativa esvoaçante que aguarda demoradamente que a agarrem. Por isso mesmo, não poderia ser senão um livro eternamente inacabado, um espelho desse que é o processo criativo. Mariana Pessoa (a autora não escreve segundo o acordo ortográfico) AROUND WHAT IS ALMOST NOT HAPPENING | Anita Marante (Porto, 1996) Licenciada em Arte Multimédia pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, vertente de Audiovisuais. Frequenta o Mestrado Contemporary Art Practice no Royal College of Art, em Londres. O seu trabalho foca-se na memória do espaço e no questionamento dos meios que mais explora, a fotografia e o vídeo. PAISAGEM MEMÓRIA | Francisca Soares (Porto , 1996) Licenciada em Multimédia pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. A sua prática artística tem geralmente o seu princípio nas fotografias que tira e que posteriormente desconstrói e descontextualiza (do espaço e do tempo). A escrita é uma importante característica do seu processo de trabalho. Vive e trabalha no Porto. SEM TÍTULO | Juliana Campos (São Paulo, 1995) Licenciada em Artes Plásticas, vertente de Multimédia, pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Vive e trabalha em Lisboa. LUZ OBLÍQUA, 2018-2019 | Rita Leite (Porto, 1996) Licenciada em Artes Plásticas pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, vertente de Pintura, encontra-se atualmente a frequentar o Mestrado em Artes Plásticas na mesma instituição. O seu trabalho surge a partir do concreto e de estímulos do quotidiano — da observação da luz, da natureza, e da recolha de marcas ou vestígios que esses elementos revelam. 2BTITLED | Sebastião Costa (Porto, 1995) É licenciado em Artes Plásticas - Multimédia pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. O seu trabalho explora o cruzamento de arte, design e dança, através de um processo que compreende os diferentes estágios do dia-a-dia como um todo essencial para a sua prática artística. A relação do corpo com o espaço é um dos seus maiores objectos de estudo, principalmente através da fotografia. Mariana Pessoa (Viseu, 1993) Licenciada em Arte Multimédia, vertente de Fotografia, pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, encontra-se atualmente a frequentar o Mestrado em História de Arte e Património, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. A sua dissertação reflete acerca das problemáticas da curadoria fotográfica contemporânea. |